
Já se esperava, talvez não tanto, mas é claro que já se esperava que a coisa fosse de nível e, meus senhores, que nível!
Se a liberdade de expressão musical existe então ela esteve ontem mais do que nenhuma outra vez aqui na nossa Lisboa, no nosso Coliseu, cheinho a abarrotar...
A abarrotar de miúdos, miúdas, gajos, gajas, bichos & bichas, tudo numa saudável comunhão como há muito se não via por cá, e digo-vos senhores, eu com os meus 37 deles e já com largas dezenas de concertos no bucho, não tenho memória.
Não tenho memória de tal festa permanente durante duas horas seguidas e a palavra certa é mesmo esta.
FESTA !!! Filthy & GorgeousUma festa contagiante do primeiro ao último minuto, feita de energia, perversão, atrevimento e com a entrega típica do final de uma longa digressão europeia que tivemos a sorte de ver terminar em Portugal.
As "Irmãs Tesoura", ou
Scissor Sisters, no original, nome que, para quem não sabe, deriva de uma posição sexual de amor lesbiano, chegaram, viram, venceram e convenceram toda e qualquer alma que por lá passou numa noite que é mais do que justo apelidar de memorável.
"We save the best for last", podiam, e as mais das vezes, são palavras de simpatia bacoca que os músicos que nos visitam gostam de soltar para ver a multidão saltar, mas neste caso a honestidade esteve sempre presente e isso sente-se e sendo verdade é fantástico.
É bem conhecida a fama de bom samaritano do público português ao receber os seus músicos de eleição e ali tudo estava certo, porventura não apenas por ser o último concerto da European Tour, mas porque a sua natureza assim o obriga, o colectivo de Nova York, mal entrou em palco partiu a loiça toda e mais que fosse.

Com Jake Shears e Ana Matronic aos comandos das operações, aquilo foi um despautério de falsetes e pulos e simulações sexuais e bichices, e claro, de grandes e contagiantes canções que o povo acompanhava de fio a pavio em 80% dos casos.
"She's my man", deu o mote quando a audiência já estava bem quentinha, fruto do trabalho de
Warm Up do competentíssimo Dj de serviço que os acompanhou durante toda a digressão a quem eles fizeram questão de agradecer pessoalmente a meio do concerto, tal como fizeram com cada um dos membros da comitiva que os acompanhou durante o longo percurso da Tour.
Qual diva da Pop, "uma senhora", como fez questão de dizer de si sem qualquer pudor, o vocalista Jake Shears, lá foi fazendo as honras da casa, cantando em falsete, despindo e vestindo fatinhos de cetim e gravatas fininhas, casacos de plástico transparente, fatos de plumas clarinhas sem braços e slips de lantejoulas prateadas (no final), belissimamente acompanhado da maravilhosa Ana Matronic em lantejoula vermelha que também não se coibiu de fazer das suas, dando logo as boas vindas à presente comunidade "PortuGay" e Gay frendly (salvaguarde-se) e simulando felações com o seu microfone ou obrigando Shears a fazer o mesmo, exacto, a coisa foi deste nível.
Mas de muito nível foi o que mais interessa além de todo este folklore que é naturalmente, a música.
Pop, funk, soul, rock, eletrónica retro anos 80, houve de tudo para todos os gostos, tudo pautado com uma saudável dose de humor que só quem tem pode entender.
Apesar do parto difícil que foi, no seu caso, o segundo álbum, a coisa foi de uma coerência absoluta e como já toda agente sabia ao que ia ninguém ficou desiludido, antes pelo contrário.
Foi o que se pode chamar de um "concertaço", daqueles que vale a pena repetir muitas vezes e as boas noticias são as do seu regresso já a 5 de julho, para o derradeiro dia do melhor SuperBock SuperRock de sempre.
I do feel like dancing...Lá estaremos!
Ta-Dah!!!
Pois, e assim vamos andando...!